OS IMPÉRIOS ATUAIS

 1) - China Pós Socialista

Como numa revoada de gansos, metáfora citada por Pepe Escobar em “21, O Século da Ásia”, “o ganso primordial é o Japão, que puxou os gansos Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul, que puxaram os gansos Malásia, Tailândia e Indonésia, que puxaram o ganso Vietnã, que puxou os gansos Camboja, Laos e Burma, à sombra de um ganso descomunal – a China”. 

Depois, caminhos diversos foram trilhados. Os que optaram pelo princípio confucionista de disciplina e trabalho duro, investiram em educação e capacitação da sua mão de obra, atraíram investimentos estrangeiros através de grandes incentivos, inclusive fiscais, estes foram os destaques.

O Japão teve problemas em sua economia nos últimos anos, mas permanece uma grande potência, com fortes laços comerciais com o Ocidente. Ainda não é possível avaliar com precisão quais serão os seus próximos passos. O mesmo pode-se dizer da Índia, país imenso que faz fronteiras com a China e está se desenvolvendo rapidamente, com o progressivo domínio da tecnologia e o crescimento da classe média. Mas é um país culturalmente dividido em castas, há muitos mortos-vivos a resgatar.

Por outro lado, a China joga os seus tentáculos sobre aqueles que ainda oferecem mão de obra barata para não perder competitividade. Produtos “made in China” não necessariamente são produzidos na China. O grande ganso procura também dominar as rotas de comércio terrestre e marítimo até a Europa. A principal obra da qual participa é conhecida como a nova rota da seda, mas não é o único foco. América do Sul e África também estão no radar.

Com 1,4 bilhão de habitantes para alimentar e desenvolver, a China procura, entre outras iniciativas, participar acionariamente de grandes portos ao redor do mundo. É o caso, por exemplo, do Brasil. Em 2018, o grupo China Merchants Port Holding Company, o maior operador do mundo, adquiriu 90% do Terminal de Containers de Paranaguá, por onde passa boa parte das nossas exportações do agronegócio. O portfólio global do CMPort abrange 25 países e regiões e 41 portos. O conglomerado empresarial faz parte do programa “Belt and Road”, implementado pelo governo chinês, e que engloba desenvolvimento e investimentos em infraestrutura em diversos países do hemisfério sul ao norte.

A estratégia do império chinês pós-socialista é simples de entender: 

__ Não podemos depender apenas de importações. Precisamos controlar a produção de produtos essenciais em outros territórios e também os terminais e rotas de comércio. Logicamente, a influência política está na pauta, principalmente na África.

2)- União Europeia

Os principais países europeus perderam colônias, sofreram duas guerras mundiais, mas, por outro lado, têm uma cultura admirável, indústrias de ponta, inteligência, mercado consumidor importante e grande potencial turístico. Juntos são um gigante, baluarte dos valores morais judaico-cristãos e fundamentais para a defesa de posições do mundo ocidental.

De qualquer maneira, é o mais frágil dos grandes impérios, pois nem sempre raciocina em bloco e não parece estar voltado para a conquista de novos territórios. Pelo contrário, sofre com a pressão dos emigrantes ilegais do oriente e da África.

Recentemente, experimentou um baque muito forte, que foi o abandono do Reino Unido, a partir do Brexit. Mas ainda é uma força a considerar, pela importância da sua economia, por sua presença política na ONU, suas relações com os Estados Unidos, seu poder bélico e posições estratégicas.

Vale ressaltar que a Europa tem cultura e inteligência e pode se desenvolver rapidamente através da tecnologia. Um bom exemplo vem da Alemanha: impressão 3D, supercomputador, hidrogênio – a pesquisa por inovação não dá tréguas naquele país.

3)- O Império Russo

 A Rússia é o maior país do mundo em extensão territorial, que vai da Ásia até a Europa. Faz fronteira com 14 países, é rica em recursos naturais, está em constante crescimento e é uma das principais fornecedoras de energia para a Europa. Só essas informações já dão uma ideia do perigo que representa, haja vista que o seu regime político é ditatorial, centralizador e orientado para a conquista de novos territórios, como a Crimeia e a Ucrânia. Possui o maior arsenal de armas de destruição em massa do planeta.

Oligarcas e mafiosos dão as cartas. Conforme o site Mundo Educação: “o intenso e desordenado processo de privatização industrial operado a partir de 1991, aliado ao aumento da corrupção no país, consolidou o processo de formação de grandes monopólios privados. Tal configuração propiciou a caracterização da produção russa marcada pela precarização das condições de trabalho e pela maciça exploração dos recursos naturais do país”.

Mas a Rússia não é uma ilha em termos de relações internacionais. Ela é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, do BRICS, do G20 e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), entre outros sistemas de cooperação.

A Rússia também está na corrida espacial, da qual participam atualmente a Agência Espacial Europeia, a NASA e a China – todos os impérios em busca do conhecimento, do aprimoramento da tecnologia e dos tesouros ainda desconhecidos.

Aliás, em termos de tecnologia, a Rússia desenvolveu modos sofisticados de ataque à segurança dos sistemas, evidenciando a fragilidade da vida orientada pelo digital. É acusada, inclusive, de ter influenciado a opinião nas eleições americanas, lançando acusações contra Hilary Clinton e beneficiando Donald Trump.

Os impérios de hoje em dia não se valem apenas das conquistas presenciais. O controle pode ser exercido além de todas as fronteiras, através de inúmeros hackers, um exército tecnológico.

 4)- Estados Unidos

Em primeiro lugar, é um país rico em recursos naturais, favorecido pela geografia, do Atlântico ao Pacífico, e culturalmente guerreiro. A conquista do oeste e a guerra de secessão, que unificou norte e sul, embora tenham acontecido no século XIX, exemplificam essa propensão para o conflito. A venda de armas para os cidadãos é praticamente livre, garantida pela Constituição.

O tradicional símbolo do Big Stick, referindo-se à política externa implementada por Theodore Roosevelt, reafirma o caráter dominador dos Estados Unidos. Eles consideram que podem interferir em todos os países que, eventualmente, tenham condições de prejudicar seus interesses (Oriente) ou sua hegemonia comercial e ideológica (América Latina). Entre outros exemplos, guerrearam contra o Iraque, o Vietnam e apoiaram as ditaduras sul americanas.

E há outro aspecto cultural, que exercem com excepcional competência: a disseminação do “american way of life”. Hollywood e Disney são carros chefes, embora nem tão admirados assim nos dias de hoje.

No momento, o presidente Joe Biden acena com um investimento superior a U$ 4 trilhões em seu país. É uma verdadeira revolução em termos de desenvolvimento, também é uma forma de confrontar seus principais competidores, China em destaque.

Mas quando ele fala em sustentabilidade, passa uma descompostura no Brasil, como se dissesse: conserta essa Amazônia aí, caso contrário eu vou intervir. Assim como os americanos intervieram em muitos lugares onde pudessem perder suas fontes de petróleo, agora se preocupam também com o clima. A intervenção pode ser física, pode ser pela retirada dos investimentos (Cuba), pode ser por quantas pressões o Estado puder criar.

Na Segunda Guerra Mundial, responderam ao ataque a Pearl Harbor com o lançamento de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Nenhum outro país do mundo jogou bombas atômicas sobre civis.

EM OUTRAS PALAVRAS

Existem 4 grandes impérios em consolidação no mundo moderno. Outros países podem ser desenvolvidos, pobres ou em desenvolvimento, mas ainda não rivalizam com os processos de dominação desses impérios. Em termos de diplomacia, melhor construir boas relações com todos quatro. A colaboração é a chave do desenvolvimento. Não é fácil, tendo em vista interesses conflitantes entre os impérios. Mas, no caso do Brasil, temos potencial econômico e posição geográfica para suportar as diferenças. Importante notar que os impérios são, em maior ou menor grau, capitalistas. As diferenças mais evidentes dizem respeito ao grau de liberdade imposto aos seus habitantes. 

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